Os meus filhos partilham connosco ideias que nos deixam a pensar durante muito tempo. As analogias são pratos principais destas "refeições" em família, que às vezes saboreamos com gargalhadas, enquanto jantamos, outras saboreamos no carro.
Ontem, o privilegio de ouvir o meu filho falar acerca da mentira foi, em primeira mão, meu.
A caminho da Venda do Pinheiro, para ir buscar a irmã, falávamos da Lua e de como estava grande e linda... Satélite puxa astro e eis que a conversa nos levou para um episódio na escola dele.
Contou-me então que um amigo ia ficar de castigo a semana inteira, pois tinha mentido à professora. "O problema não foi ele não ter terminado os trabalhos, mãe, sabes... às vezes não conseguimos fazer tudo o que temos para fazer. Isso até foi médio-sério... o problema é que ele mentiu à professora e disse que já tinha feito tudo" dizia o meu filho, com um ar muito sério.
"Sabes mãe, para mim a mentira é assim um monstro enorme, um coração escuro e triste... assim um sol preto, que não ilumina nada nem ninguém".
Ele continuou a explicar o tamanho dos outros monstros, como são "os palavrões", "deixar alguém triste", "bater", "dizer asneiras"... enquanto eu e a enorme Lua o ouvíamos.
As suas palavras continuam a fazer eco em mim. Assim como o enorme privilegio de poder saborear momentos como este, tão cheios de luz!
Que bonito, Isabel! O Manuel é um miúdo fantástico. Porque encontra sempre palavras, atitudes e olhares surpreendentes para dizer as coisas que nós já não somos capazes de dizer porque estamos cheios de conceitos arrumados em gavetas que já não conseguimos deixar fechadas quando tentamos uma leitura das coisas. As crianças deslumbram-me porque sabem a poesia espontaneamente... Considero um privilégio conhecer-vos e poder participar um pouco, quase nada, na educação da Mariana... No fundo, é o testemunho de uma família empenhada em SER AQUILO QUE É o que realmente mais me apaixona. Obrigado.
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