envergonhada comigo

Um destes dias senti-me muito envergonhada. Confesso o meu jeito, um pouco distraído, e às vezes o resultado deixa-me bastante desconfortável comigo. Foi, exactamente o que aconteceu na semana passada. Não quero esquecer para evitar repetir-me.
Guiava por uma rua, com carros estacionados num dos lados e de repente vejo um senhor, já em cima da passadeira para peões a fazer-me uma enorme vénia... Num movimento lento e irónico mostrava-me como estava a desrespeita-lo e frisava, através do sorriso, que ele tinha prioridade, que eu não estava atenta e que em último caso o meu carro era mais forte que ele... fiquei de rastos, senti-me profundamente envergonhada comigo e nem o meu sorriso amarelado a pedir imensas desculpas ajudou. Só o vi endireitar-se através do retrovisor enquanto abanava a cabeça em sinal de descrédito pelas falta de civismo em situações como aquela.

Senti-me envergonhada comigo e triste... triste, porque momentos antes, numa outra passadeira, fui a única que parei para que um menino pudesse passar a estrada em segurança. Trocamos olhares, eu e aquele miúdo, e nos nossos silêncios, penso que partilhamos uma condenação a todas as pessoas que passavam nos seus carros pela passedeira fingindo não o ver à espera de atravessar.
Eu, não só julguei os outros e os condenei como me senti a única pessoa a agir correctamente. Ironia... minutos depois fiz o mesmo. No entanto, a minha falta de atenção, a minha falta de respeito pelos peões foi premiada com uma prolongada vénia que me fez pensar, que me pôs de novo alerta e que espero não esquecer.