25 de janeiro de 2010

Pedra angular


"Pedra angular é aquela pedra, pequena, cortada em triângulo e que é colocada mesmo no ponto mais alto de um arco, ou de uma ogiva, e que aguenta e junta duas partes de uma porta ou de um tecto em arco. É uma pedra que não faz força, não precisa ser grande, mas se alguém a tirar cai tudo. Há pessoas assim: parece que não fazem nada e, contudo, nada funciona sem elas".

Esta é a proposta de reflexão que o Padre Vasco Pinto de Magalhães coloca no livro "Não há soluções, há caminhos", para o dia 21 de Janeiro. É um dos livros que trago sempre "colado" a mim e das palavras que traz tenho tanto para dizer... encontro nele tantos sentidos...
Na semana passada, quinta-feira pela manhã, li este pensamento algures a meio da manhã. Fiquei a pensar na minha mãe. Uma mulher baixinha, discreta... mas simultaneamente grande, muito grande, no sentido em foi uma daquelas pessoas que fazem de todos os seus dias, uma absoluta entrega ao outro, a quem se cruzar com elas, mas sempre em segredo, sempre ara fugir a elogios. E, foi isso que me levou a sorrir, ao lembrar-me da minha infância de da mulher que me criou, a "pedra angular", cujos caminhos e soluções me orientam.
Curiosamente, foi também nessa manhã que decidi trocar a fotografia que dá a cara ao meu blogue. Primeiro coloquei uma da minha filha, mais divertida, ainda que discreta e desafiadora! Fiquei indecisa entre as duas mas acabei por deixar ficar a que está actualmente, onde estou eu e a minha mãe de mãos dadas.
Pedi ajuda a um amigo para diminuir o espaço que estas fotos ocupam. Afinal, sempre pretendi que as palavras e os momentos que partilho aqui, e que são riquezas enormes que me são dadas a viver, através das pessoas com quem me cruzo, as suas histórias... essas sim, deviam ter mais destaque que as fotos que escolho. Como sei pouco do mundo da internet e das suas ferramentas, é a um grande amigo que recorro sempre. Também na quinta-feira passada o fiz mas ao fim da tarde, junto com as indicações que lhe pedi, dizia-me: "Mas já agora, porque é que queres mudar a foto? Eu acho que está magnifico assim..." E assim deixei ficar.
O dia continuou cheio de sinais, uns muito divertidos, outros demasiado sensíveis. Já ao cair da tarde, o meu marido chegou a casa com a notícia que me cirandou todo o dia todo. Fomos juntos para Carnide, para a Confraria São Vicente de Paulo, e no dia seguinte os sinos tocaram na minha aldeia. Após a celebração seguimos, num passo
silencioso, tão característico na minha mãe, partilhamos "encontros" na companhia de alguns amigos e familiares.
Sei onde está a minha mãe. Conheço um pouco daquela paz, tão... gigante!
Sinto daqui a alegria dela e, se fechar os olhos, ouço-lhe as gargalhadas e sinto o toque. A caridade que pautou a sua vida, em todas as etapas lhe vi: "não quero incomodar..." O exemplo, a generosidade, a inteligência afectiva... estas são apenas alguns detalhes do mundo maravilhoso que trazia escrito nas mãos.
Terminou a sua missão aqui, na mesma semana em nós, cá em casa, tinhamos por tarefa, pesquisar com os miúdos quem foi São Vicente... "É aquele que deu o nome ao lar onde está a avó?" Sim, e o dia de S. Vicente foi sexta-feira. Um dia que para nós foi marcado por uma despedida muito dolorosa, mas também por reencontros.
Sei que ganhamos mais um anjo no céu. E, que já iniciou uma nova missão, junto do Pai.
Ainda dói imenso habituar-me a esta ausência. E, o meu egoísmo, diante destas suas novas tarefas, ainda não permitiu que o silêncio me ajude a acomodar a saudade da minha mãe, tão pequena por fora e tão "angular" na minha vida.
Olho lá para fora e Deus dá-me a oportunidade de assistir a este dia que vejo nascer. São quase sete e meia. Que benção saber o que é ser mãe, ter os meus filhos por perto.

3 comentários:

  1. um beijo do tamanho desse amor que une mães e filh@s. parabéns pelas palavras, pelos ensinamentos que ficam à nova geração. obrigada pela partilha. uma oração em uníssono.

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  2. Nunca nos habituamos à saudade. Aprendemos apenas a viver com ela e com as imagens que ela despoleta. Aprendemos a olhar para o passado e a sentir o que aprendemos com ele, revivemos situações que nos sossegam a alma, ao vermos que não as esqueceremos mais.
    E então, porque não nos habituamos a ela, deixamos que a saudade doa uma dor boa, em paz com a ausência.

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