18 de setembro de 2009

Voltar a casa



Sempre adorei voltar a casa. Gosto de viajar, de sair, de descobrir novos espaços mas, o que mais me aconchega o coração é voltar para casa.

No entanto, voltar a casa desta vez está a ser uma experiência única e diferente, muito diferente. Pela primeira vez na vida voltei para casa sem reconhecer os espaços. Estive sem memória quase um mês pelo que não me lembrava de como era a minha casa. E foi divertido redescobrir uma cozinha onde passo tanto tempo, um jardim com flores cheias de cheiros... foi engraçado olhar para flores que plantei sem me lembrar de o fazer ou dos seus nomes.

Dou graças a Deus por me ter esquecido apenas de coisas e sem que por um momento me tenha esquecido do meu marido e dos meus filhos.
Fui operada a dois aneurismas quando um deles rebentou coisas que nunca sonhei ter. Ficaram dois em lista de espera para nova operação mas pelo que percebi terei tempo de ir ao cabeleireiro trocar este corte com um look Frankenstein e não continuar a chocar muito os miúdos com esta cicatriz malandreca...

Faço voluntariado mas nunca tinha estado do lado de lá. Nunca tinha sido eu a estar ligada a tubos, máscaras, máquinas... nunca tinha estado em coma mas também nunca me tinha divertido tanto com os relatos do meu marido acerca de uma cirurgia, na qual estive sempre acordada e quando sai da sala disse-lhe que estava muito bem pois já me tinham arrancado um dente!

Também passei pela experiência de ver o meu marido quando acordei do coma o que coincidiu com os 15 minutos de visita a que ele tinha direito por dia. E esta foi a primeira memória que guardo desde à quase um mês.

Ao acordar de uma inconsiência prolongada senti a mais profunda sensação de paz. Senti a presença de Deus a abraçar-me e senti que Ele me estava a acordar. Sei que esteve ali comigo e que insistiu muito para que eu voltasse a casa. Senti-O tão perto e tão presente como nunca tinha sentido. E a sua presença fez deste um dos momentos mais maravilhosos da minha vida. Com todo o amor que sinto, tanto da minha família como de Deus vou controlando a falta de forças nas pernas e nos braços e vamos todos rindo quando me ponho a andar, a descer escadas ou abraçada às paredes.

Ainda não consigo pegar a minha filha mais nova ao colo, mas tenho os três e o meu marido sempre disponíveis para pegarem em mim.
Por ter passado por tudo isto com tanto amor e tanta Fé sabe mesmo bem voltar a casa, ainda que não tenha reconhecido logo todos os cantos.

Também já recuperei a password do mail, algumas forças nos músculos e o estar sempre com a minha família por perto. O que vem agora é uma surpresa a cada dia e as surpresas quando trazem tanto carinho e tanto amor como as minhas sabem sempre bem.

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